sábado, 28 de julho de 2012

sementeira




ela queria ser plantada ao largo
com um chumaço de nuvem nas sobrancelhas
e ninhos no buraco do peito.
dizia que seu ventre dava para muitas coisas menos para filhos.

ninguém acreditava que era pelo ventre que cuidava dos filhos dos outros,
de seus retratos na escuridão, de suas vozes no ranger das portas,
de seus passos descalços da carne.
a começar pela casa vigiada por cães que atravessavam as paredes
e entravam no sonho de todos, o mistério se sentava à cabeceira da mesa
e tinha uma rosa que nunca envelhecia na lapela.
ela nascera quando as árvores ficaram seres vivos estranhos, de frutos e
flores secos, respiravam pouco e tinham pouca estatura.
enquanto o homem achava cada vez mais sombrio a vida envelhecer,
ela falava das esquecidas sequóias: "120 metros em pé por mais de mil anos!".
ao entardecer, lançava migalhas às beiras da escuridão
e aguardava os pássaros se conservarem acesos.

fotografia   martin stranka
palavras   luciana marinho

terça-feira, 24 de julho de 2012

por aqui e por onde mais

a casa crescerá na direção do vento
assim como se posiciona uma janela para o poente.

 
 

cobria os dentes com cravos e sorria para ninguém.
e ninguém se aproximava de sua lentidão,
de seus olhos inclinados para baixo a coser a escuridão
entre uma linha e outra da mão.

⇁ a escuridão
água enramando seus pés      
   
onde desertos descampavam seus ossos
alojavam pulmão e coração naquele céu ancorado nos pássaros.

fotografia anka zhuravleva
palavras luciana marinho

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