segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pássaros respirados

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Quando o vento mergulha nas crianças
lavra seus abdomens de pássaros respirados. 
Mundo de enigmas, chão, breus 
e meninos com plantação de lótus nos pés.
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É noite nos orifícios das crianças.
De seus póros caem os punhais herdados
- filhos do sombrio peito dos homens.

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O silêncio faz crescer suas casas
e, sobre o tempo, a mão de ninho

desbravadora e crua.
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Luciana Marinho
Texto e colagem

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Reminiscências

. I
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pende do galho uma paisagem com pássaro preso
como coração com árvore nevada dentro.
tempo de voltar às montanhas,
aos cumes, se cobrir de nuvens.
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deserto de alma preenchido de sol.
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. II
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deita-te na boca constelada.
o verbo foi maculado,
algumas crianças se perderam
e a infância ficou menor.
enlarguece a Casa
para caber as palavras infantis.
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.III
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a terra alimentada pelo mistério de tua sede
amanheça girassol doado ao ventre.
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Texto e Colagem
Luciana Marinho

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cintilância

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Meus pés começam a ver a terra
e eu tenho fome daquela estrela
que de mim é outra vida.
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Texto e fotografia Luciana Marinho

domingo, 16 de agosto de 2009

Pulmonar

HÁ alguns dias, conheci-me através do olhar de um poeta. Encontrei-me num campo de figos maduros. Lau Siqueira é o poeta. Os figos é o que o coração humano generosamente abarca em seus gestos. Senti-me criada pelas palavras de Lau, mas não menos verdadeira por isso. Sou grata à sua sensibilidade, que encontrou em meus escritos um mundo a dialogar com o seu. Sou grata a seu olhar sobre mim.
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Enveredando no link abaixo, encontrarás o post dedicado aos meus textos e entrarás no labirinto de um fabuloso manifesto em favor da poesia no homem, o blog Poesia Sim, de Lau Siqueira.
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http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/2009/08/meios-sem-arrodeios-luciana-marinho.html
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pulmonar

porque os lírios cheiram à infância
com suas crianças
de rio e de crinas.
porque a infância cheira a velhos
com seus pés
de búzio e de cânticos.
porque os velhos cheiram a tempo
com suas borboletas de seda e de maçãs
porque o tempo cheira a lírios
com seu umbigo de sol e de princípios.

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Textos e Colagem Luciana Marinho

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mundos Invisíveis

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Há sempre alguém que não vemos nos doando flores. Este pensamento trouxe o infinito para o peito dela e um deixar-se ali onde o humano cresce livre da morte do silêncio. Da morte da partilha. Da morte da solidão. Ela aninha-se na palma da mão da humanidade. O sagrado move-se em suas artérias como nos olhos dos apartados, dos feridos, dos sem céu. Ela aninha-se na respiração profunda das árvores. Caminha junto ao martírio dos cravos. Atravessa os inquebrantáveis em suas verdades. Atravessa os tolerantes entre iguais. Atravessa os catalogadores de seres. Descansa onde o bico do pássaro recolhe a seiva. E floresce.
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Texto e colagem Luciana Marinho

domingo, 12 de abril de 2009

Primaveras no Vidro

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Pequeno como uma mão aberta,
é prado sonâmbulo na folhagem inocente do tempo.
Não se distrai da natureza.
Sustenta o invisível.
É-se, no bruto fazer-se do mundo,
incrustação na luz..
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Vinha com as nuvens crivadas no ventre.
Vozes familiares se emaranhavam em seus cabelos.
Guardava - nas violetas da pupila
e nos cortes sob o vestido -
a genealogia de infâncias que ficaram
nas laranjeiras,
nas pedrinhas atiradas ao ar,
no vento decantando risos
que não há.
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À casinfância
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.Se olho longamente em teus olhos
encontro minha alma.
Pela tua boca sinto o meu gosto
por frutas e sementes.
Na memória de teu pátio,
o balanço na oliveira me leva,
impregnando meus cabelos de céu.
Corro por tuas fronteiras
imensamente deserto.
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Fotografias Evgen Bavcar
Textos Luciana Marinho

domingo, 22 de março de 2009

Desnudo

Erguendo as raízes do mar

e o tempo com sua cordilheira de espinhos,

ele deixa-se todo em corais queimando

sob céu cravejado de lírios.


Colagem e texto Luciana Marinho
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