sábado, 24 de novembro de 2007

Os Pés dançam Paisagens

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As solas de teus pés pintadas de vermelho
duas pétalas no tempo.
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Os teus pequenos pés.
O parque.
O mundo.
A solidão.
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Poema Cecília Meireles
Colagem e pintura Luciana Marinho.
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domingo, 4 de novembro de 2007

Candeia Acesa

o que chamam de vazio
outros chamam de luz
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Fotografia e texto .Luciana Marinho
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Água Marinha

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Mar,
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metade da minha alma
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é feita de maresia.
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Poema ..Sophia de Mello Andresen
Fotografias ..Luciana Marinho
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domingo, 24 de junho de 2007

Mapa Biográfico das Constelações

.ÚLTIMA CARTA de Ava.
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Não falar do pão. Não falar da água. Nem do resto de luz preso à unha. Deixar que o espelho esconda as faces e só fique a de tuas costas indo além das colunas de ar. Escorre no vento a força de tuas mãos rasgando cartas que eu escrevi com ancoradouros e oceanos. Sempre pensei nossos corpos fazendo sombra única quando o sol crescia sobre nós. Agora me sobra o suor que eu não sei precisar de qual esforço. Talvez o de manter o corpo abraçado à alma, antes que ela salte e deixe só os recantos de mim. As tardes como calendários do tempo gasto a fio para esquecer o que não é mais memória, mas veia, rugas, sangue, coração arfante. Eu que mais não sou.
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Ava
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[ Imagem: Montagem sem título. Luciana Marinho 2006 ].

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Os Corpos Masculinos e as Flores

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SARGENTO GARCIA
em memória de Caio Fernando Abreu
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teus lábios em minha pele
cálidos como
as matilhas selvagens do
encanto

meu pau
solene feito um átrio aço
incontido de paixão e medo
busca o abrigo do teu hálito

nenhuma voz crepuscular
na indução do desejo
escarro na boca
escancarada da cidade

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Lau Siqueira

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* Colagem feita a partir da leitura do conto Morangos Mofados,
de Caio Fernando Abreu, para a exposição de fotografias
Das Cores que Caio: um Diálogo Foto-Literário
organizada por Adriano Andrade no
I Colóquio de Estudos Literários Contemporâneos
UFPE 2006

* Poema escrito especialmente para o jornal Colméia
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sexta-feira, 1 de junho de 2007

M.o.s.a.i.c.o d.e V.e.n.t.o

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Palimpsestos
de Kaminski
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Sou encantada com seu mundo já há algum tempo.
Vi muita beleza em tudo.
Várias naturezas se tocando num deslimite místico.
Passa-me uma nostalgia imensa.
Nostalgia do infinito que somos.
De nosso ventre e reentrâncias.
Delicadeza, suavidade, densidade, feminilidade
e muitas possibilidades de ser:
Ser música, páginas, vãos, terra, outono, noite, azul, silêncio.
Ser num olhar.

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Imagem:
In-conclusão
Ana Luisa Kaminski
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sexta-feira, 18 de maio de 2007

Memórias Íntimas: nosso Mundo com Rosângela Rennó

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Rosângela Rennó constrói sua obra a partir da apropriação de imagens alheias - fotografias e negativos - retiradas da "vala comum do esquecimento". Imagens encontradas em arquivos públicos, em lixos de studio fotográfico, achados de álbuns de família, fotos 3x4. Após sofrerem intervenções feitas pela artista - por meio de ampliações, rasuras, desbotamentos, dentre outros processos - essas imagens são relançadas ao mundo simbólico.

Entretanto, ao serem novamente objeto do olhar e conteúdo da memória, não guardam mais rostos definidos, um sujeito que possa ser identificado facilmente. Essas fotografias, ao fazerem o percurso do esquecimento à reintegração ao olhar social, trazem-nos a reflexão sobre a perda de nossa memória afetiva, social, cultural.

Deparamo-nos, assim, com um tema constante na sua obra, a impossibilidade de conceber o Outro. Isso se materializa após as intervenções da artista, principalmente nos rostos contidos nas imagens das quais se apropria. Esses rostos, perdidos nos arquivos e lixos públicos, continuam não percebidos pelo nosso olhar - obstruídos por sombras, embaçamentos - quando ressignificados após as alterações. Perpassado de simbolismos, encontramos já no primeiro gesto da artista, o de coletar e se apropriar de imagens "esquecidas", um tema a ser discutido, uma poética da existência, como Rennó aponta:

A idéia de margem nos meus trabalhos corresponde ao que quase pula para fora do circuito dos objetos. O que quase vai para o lixo. Interesso-me pelo material, pois me leva a pensar em que medida posso determinar que uma coisa não serve para absolutamente mais nada. Trata-se de uma questão de atribuição de valor, e meu trabalho sempre começa pelo questionamento da atribuição de valor. Em fotografia, podemos falar de valor estético, valor documental, valor simbólico, valor sentimental... então, quando se destinou uma imagem ao lixo, significa que ela perdeu muita coisa.

Rosângela Rennó

Dialogar com suas imagens e palavras requer do leitor uma abertura para a tensão e para uma certa insônia diante de um mundo inflado de símbolos. Diante do estranhamento desse universo reconstruido, fica-nos a sensação imprópria de que imagem e título "quase" se autodeterminam, como tudo que acrescenta algo por se desviar do viés da redundância.



Fotografia: Estado de Exceção, 1988, Rosângela Rennó.
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domingo, 13 de maio de 2007

"O Céu está no Chão"

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[Chão . Fotografia tirada no Instituto Ricardo Brennand
Luciana Marinho . 2006]

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Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
quando cheias de areia de formiga e musgo - elas
podem um dia milagrar flores.

(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono)

Também latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro - elas podem um dia milagrar violetas.

(Eu sou beato em violetas)

Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus.

Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!
(O abandono me protege)

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Manoel de Barros

em Livro sobre Nada

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