domingo, 4 de setembro de 2011

Passagens

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio à roda de seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade


Os antigos diziam que do centro de uma árvore se chegava a qualquer lugar. Sem perceber que transportavam essa sabedoria, as crianças desenhavam suas famílias e esconderijos no tronco das árvores mais altas, atraídas pela luz. Das mãos das crianças, assim, surgiam as primeiras árvores genealógicas para dizer do enraizamento humano. Na árvore genealógica, estavam o rumo de tudo e os segredos também. Mas, foram os homens de vista baixa os primeiros a desistir do caminho ascensional das árvores. Desenraizaram os pés da terra, ferindo e consumindo baobás, oliveiras, carvalhos ao fogo. Usaram a luz contra a luz. Peregrinaram sem gravidade, juntamente com seus filhos. Às vezes, algumas crianças sentiam uma nostalgia imensa. O tempo passava por elas como um calafrio. Quiseram ler o que fora apagado dos olhos. Sem perceber, procuraram as inscrições dos ancestrais nos distantes troncos que resistiam. Reconheciam a profunda tristeza das árvores como sua. Sustentavam luminescências contra signos mortos.
.
Colagem e Palavras
Luciana Marinho

16 comentários:

  1. Luciana
    Gostei da postagem, me trouxe uma nostalgia imensa ficar aqui pensando estas crianças
    abraços

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  2. assim estou hoje, querendo respirar de dentro das árvores :)

    um abraço!

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  3. a cada gesto que faziam
    um pássaro nascia dos seus dedos :)

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  4. Nostalgia de alas, de pájaros, de luz. Nostalgia de cimas, de veredas que se elevan. Nostalgia de copas que tocan con sus hojas las nubes, y las incendian. Volar, respirar. Nostalgia de árboles. Nostalgia de olas. Nostalgia de sendas, abiertas, de besos y de luciérnagas. Y tu mano que toca mi boca respira palabras y cadencias.

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  5. andressa,

    bem vinda..
    esses versos é de um dos poemas de eugénio de andrade que mais me toca.

    um abraço!

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  6. índigo,

    muito grata e feliz fico com tua presença por aqui... sempre trazendo mais poesia.

    abraço, querida!

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  7. grata, fred!
    és muito bem vindo por aqui.

    um abraço!

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  8. maquina colírica...
    de transbordar os olhos...

    colagem bonita, lu.... palavras que cairam como uma roupa feita sob medida para o manequim.

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  9. se é robertim quem diz...
    eu fico grata, queridíssimo!
    aqui também és primeira pessoa :)

    beijos!

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  10. Luciana,
    Quando a leio fico sempre com a impressão de navegar em águas muito profundas, em locais onde o acessório não tem qualquer cabimento. E sinto-me grato por isso.
    Obrigado.

    Beijo :)

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  11. AC,

    fiquei sem saber como te responder.. de tão admirada e agradecida. fico feliz que o máquina lírica seja, com a tua acolhida, essas águas profundas.

    grande abraço!!

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  12. lindo :) adorei os recortes imagéticos, literários!

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  13. Que bela colagem! Lindo trabalho!
    Muitas vezes, olhando as árvores, já senti ser uma delas. E esse desejo é quase permanente!
    Sua sensibilidade nos encanta!
    bom fim de semana, bjo Luciana.

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  14. felicidade clandestina,

    claricianas e claricianos
    são sempre bem vindos! :)

    um abraço!

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  15. soninha,

    quando você vem, juntamente vêm as fotografias delicadas, as flores, os poentes.. os artezanais fazeres. tudo com muita beleza e cuidado.

    fico feliz de encontrá-la aqui!

    bem vinda!

    beijoca.

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