domingo, 15 de novembro de 2015

casa dos dias

                                                                                                                                               2 de novembro de 2015
              



o silêncio aqui é quietude de presenças no dia em que se visitam os mortos. há o relógio antigo de minha avó. a cadeira de balanço de meu avô, depois, de meu pai até ele partir. os livros de minha mãe e os meus. há o silêncio que vem do vivido em tempos que não se conheceram, mas que se encontram aqui, no vão desta sala, onde sei falar de meu avô como se, algum dia, tivéssemos nos olhado nos olhos. seguro seu livro de poesia, manuscrito, como se tivesse recebido de suas mãos. as palavras são lares com cheiro, alento, conciliação. há querubim ressonando seu descanso em meus pés enquanto eu vejo fotografias dos anos 70, os do nascimento de minha nostalgia. há o tempo existindo só para termos histórias de vida.



palavras e fotografia     luciana marinho

domingo, 12 de abril de 2015

houvera




quando amanhece, o dia já morreu.
aguilhões na artéria da mão,
um desencantar da vida.
o coração a conta gotas
o fôlego – respiro arfante do vento:
se eu tivesse sobrevivido.
e eu não voltei
de onde tudo há de se perder.



fotografia     kamil vojnar
palavras     luciana marinho

sexta-feira, 3 de abril de 2015

transversais






I

surgem respirando as raízes afundadas
os olhos exilados em porões de outro mundo.
contra a luz
a sombra deixa enormes as víboras.

II

onde mais viverei?
o quarto era escuro e os objetos 
eram apalpados pelo hálito dos mortos.
as crianças comiam com a mão
e, às vezes, passavam o dia na água, esquecidas


III

não respondia pelo nome.
chegou aos sete anos com neblina encardindo as cavidades.
a pupila dilatada em pranto de nascer
quimera dentro de uma concha arrancada de mar nenhum.

IV

corria com os punhos fechados 
para o soluço não cair da mão.




fotografia     lauren rosembaum
palavras     luciana marinho

quinta-feira, 12 de março de 2015

ontens





guardou os dentes em uma caixinha
para contar a história das idades
e do espelho que demora a dar contorno
ao desamparo da correnteza no olhar.
aquela maneira da sobrancelha se portar, tão a seu pai,
em meio ao clarão do dia, também era lembrança 

na caixinha. fomos, pai, para onde?
além do vento se curvando na concha
e enterrando o ruído de teu coração em meu ouvido?






fotografias    elena kalis e cole thompson
palavras    luciana marinho

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

árvore da minha vida




[ jardins aquáticos da Praça de Casa Forte e de mi corazón | projeto paisagístico de Burle Marx, Recife, 1934 ]

fotografia   luciana marinho




❃ ❂ 





alejandra pizarnik



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