sábado, 7 de setembro de 2013

criptogramas de Arminda




o poente que não cicatriza
ainda fere a tarde.
as cores trêmulas se acolhem
nas entranhas das coisas.

jorge luis borges





ao norte, a mão de pedra sobre pedras.
ao sul, os pés feridos de Aquiles.
a sombra de meu corpo recai nos ombros de Arminda.
Arminda repete a cantiga das linhas do mar.
em suas preces, os que se foram ordenam nervos, bálsamos. o descampado.







a terra que ocupamos recua para a fronteira.
Arminda continua amamentando seus filhos e os dos outros.
um estranho chega à porta:
"desconhecerão teu sangue.
não terão os teus por irmão".
Arminda tem os sinais para descer à vida.







a voz de Arminda anda por muito longe à procura do barro junto à mão divina:
vim antes de todos para que nenhum animal fosse morto.
entre a unha e a carne há sinais da luta pela sobrevivência.
estrelas d'águas, moventes, corpos celestes,
povoados que me regressam 
pré-históricos
ao ocaso
ao vasto nevoeiro terrestre.







fotografias     sebastião salgado
palavras     luciana marinho

9 comentários:

  1. Las fotografías son bellísimas, como un grito, como una ala rota atrapada entre el ramaje, como un cesto encarcelado entre unas manos... las letras susurran el alarido, luchan desde el origen, vierten leche en el camino. Muy bello, Lu. Bellísimo. Abrazo enorme, querida, enorme.

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    1. que bonito... grata, índigo. fico feliz com o diálogo que tens com minha escrita, com minhas escolhas fotográficas. beijos!

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  2. Um belo poema narrativo. Tocante!
    Beijo!

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    1. Professora, como sempre me encanto com tamanha sensibilidade. Nem sei o que comentar. Teus textos mais parecem telas que se movem em palavras.

      Melhor te confessar o susto que tive quando vi teu perfil, do face, excluído. Senti tua falta.
      Beijos.

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    2. ju, querida,

      bem-vinda, sempre!
      obrigada pelo presente de um comentário delicado, bonito.
      o momento está um pouquinho conturbado,
      por isso saí temporariamente do face.
      qualquer dia, retorno.

      beijinho.

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  3. Que apetitoso banquete, a postagem.

    Com direito a sobremesa de Sebastião Salgado.

    Alimentei-me de lirismo.

    Abç, Luciana!

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    1. gracis, will :)

      sebastião salgado é monumental. acompanho o trabalho dele há anos. é uma honra postá-lo aqui.

      abraço!

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