o poente que não cicatriza
ainda fere a tarde.
as cores trêmulas se acolhem
nas entranhas das coisas.
jorge luis borges
ao norte, a mão de pedra sobre pedras.
ao sul, os pés feridos de Aquiles.
a sombra de meu corpo recai nos ombros de Arminda.
Arminda repete a cantiga das linhas do mar.
em suas preces, os que se foram ordenam nervos, bálsamos. o descampado.
a terra que ocupamos recua para a fronteira.
Arminda continua amamentando seus filhos e os dos outros.
um estranho chega à porta:
"desconhecerão teu sangue.
não terão os teus por irmão".
Arminda tem os sinais para descer à vida.
❃
a voz de Arminda anda por muito longe à procura do barro junto à mão divina:
vim antes de todos para que nenhum animal fosse morto.
entre a unha e a carne há sinais da luta pela sobrevivência.
estrelas d'águas, moventes, corpos celestes,
povoados que me regressam
pré-históricos
ao ocaso
ao vasto nevoeiro terrestre.
fotografias sebastião salgado
palavras luciana marinho