domingo, 29 de setembro de 2013

reescrita II: na morada do Verbo





és os veios de meu nome
e a difícil obra de pronunciar o mundo. 
sopro, bálsamo, alianças do tempo ─ 
Palavra. 
pela tua boca sinto o meu gosto 
por terra e semente. 
na memória de teu pátio, 
o balanço na oliveira me leva, 
impregnando meus cabelos de céu. 
corro por tuas fronteiras 
imensamente deserto. 
és, no bruto fazer-se do mundo, 
incrustação na luz. 


fotografia     aëla labbé
palavras     luciana marinho

sábado, 7 de setembro de 2013

criptogramas de Arminda




o poente que não cicatriza
ainda fere a tarde.
as cores trêmulas se acolhem
nas entranhas das coisas.

jorge luis borges





ao norte, a mão de pedra sobre pedras.
ao sul, os pés feridos de Aquiles.
a sombra de meu corpo recai nos ombros de Arminda.
Arminda repete a cantiga das linhas do mar.
em suas preces, os que se foram ordenam nervos, bálsamos. o descampado.







a terra que ocupamos recua para a fronteira.
Arminda continua amamentando seus filhos e os dos outros.
um estranho chega à porta:
"desconhecerão teu sangue.
não terão os teus por irmão".
Arminda tem os sinais para descer à vida.







a voz de Arminda anda por muito longe à procura do barro junto à mão divina:
vim antes de todos para que nenhum animal fosse morto.
entre a unha e a carne há sinais da luta pela sobrevivência.
estrelas d'águas, moventes, corpos celestes,
povoados que me regressam 
pré-históricos
ao ocaso
ao vasto nevoeiro terrestre.







fotografias     sebastião salgado
palavras     luciana marinho

Partilha

Nome

E-mail *

Mensagem *